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Festival de Literatura em Chapada dos Guimarães

A grande vencedora do Concurso Literário "Linhas do Amanhã" foi Caroline Krebs e levou pra casa um computador novinho onde vai poder contar muitas histórias. Confira o texto!

Incerto

Chovia forte, a única luz presente na rua era a dos postes, uma delas oscilava constantemente. Num beco sujo e estreito se encontrava um garoto. Ofegante. Machucado. Desesperado.

Tentava fazer o mínimo barulho possível, eles estavam por perto. Pressionou a mão na barriga soltando um gemido de dor, as pontadas que sentia no local o fazia fechar os olhos tentando se controlar. Escutou passos apressados no chão molhado. Ficou em alerta. Temia que o achassem, mas temia mais ainda que encontrassem Yuta.

Ao perceber que nenhum barulho era escutado, permitiu se sentir aliviado por hora. Se encolheu mais contra a parede, abraçou seus joelhos numa tentativa de se aquecer, agora que a adrenalina passou sentia, não somente as dores se intensificarem, o frio também. Tinha que sair do local e procurar por ajuda, precisava saber se Yuta estava bem, se conseguiu fugir. Seu corpo estava quieto, mas sua mente não conseguia parar, se alguma coisa tivesse acontecido ao outro com certeza não iria se perdoar. Prometeu que o protegeria sempre.

Um som veio da entrada do beco. Prendeu a respiração e apertou mais ainda as pernas rente ao corpo. Só conseguia pensar que o acharam e agora seria seu fim, queria ao menos ter conseguido abraçar e dizer a Yuta que o ama.

―Jonnhy? Me diz que você está aqui, por favor.

A voz trêmula e baixa de Yuta pode ser escutada, fez com que Johnny ignorasse a dor em seu corpo e levantasse com pressa. Puxou o outro para um abraço e permitiu se encostar novamente na parede fria. O corpo de Yuta estava quente, assim como as lágrimas que desciam em abundância por seu rosto.

Afastou o outro minimamente, passou as mãos pela face de Yuta o sentindo beijar seus dedos e logo entrelaçando suas mãos.

―Eu fiquei tão desesperado quando você se afastou de mim. ― Yuta dizia com pesar, em sua mente as cenas se repassavam mais uma vez. ― Quando percebi que eles somente te seguiram e não há mim, eu senti tanto medo. Você já estava tão machucado, iriam te matar.

―O importante é que você está bem Yu, eu nunca vou deixar nada de ruim acontecer a ti. ― Johnny sentiu o outro repousar a cabeça em seu ombro, não muito depois escutou Yuta fungar. ― Não chore, eu estou bem, ok?

Johnny abraça o outro mais forte.

― É só que o jeito que você fala, sem se importar consigo, me deixa mal. Eu não consigo imaginar um mundo sem você, e saber que está machucado por minha culpa me...

― Isso não é culpa sua! ― Diz exaltado interrompendo a fala de Yuta. ― Sabe que isso é culpa de pessoas intolerantes e ignorantes como aquele grupo. Se eu me machuquei foi para te proteger, eu prometi isso. Faço o que for necessário para cumprir isso.

Ficaram em silêncio sentindo o calor um do outro, o desespero dando lugar ao alívio. Mas o medo ainda presente.

― Quando poderemos ter paz John? Andar pela rua sem receber um único olhar nos julgando, desprezando. ― A voz baixa e rouca soa, há dor presente em sua entonação. ― É tão errado assim te amar e querer ser feliz? Eu não consigo aceitar.

Johnny suspira, ele entende o que Yuta sente. Fica um tempo refletindo, pensando em tudo que já passaram e ainda vão passar por estarem juntos.

― Eu não posso te dizer exatamente quando, a sociedade ainda tem muito o que evoluir. ― Sussurra Johnny no ouvido de Yuta, se sente fraco. ― O que podemos fazer é tentar mudar isso aos poucos, não sozinhos, mas com todos que também lutam por isso: um lugar que as diferenças não sejam motivo de ódio, desprezo ou uma desculpa para rebaixar alguém. Vai chegar um dia em que gênero, sexualidade, a cor da pele, ou o lugar de onde se veio, não irão influenciar em decisões ou na vida de alguém.

― Ainda quero presenciar isso com você, ver que as próximas gerações não irão ter que passar o mesmo que nós.

Yuta tira seu rosto do ombro de Johnny e lhe da um leve selar nos lábios. Os dois sorriem.

― Eu posso aguentar o que for preciso para te ver bem e sorrindo. ― Johnny diz sentindo seu corpo relaxar ao ver o sorriso leve do outro. ― Independente do quanto as pessoas podem vir a ser hostis conosco, eu sempre irei dar um jeito.

A chuva já tinha diminuído consideravelmente, Yuta foi até a entrada o beco e observou a rua vazia e silenciosa. Voltou para perto do outro e o ajudou a se apoiar em seu corpo, saíram do local com calma, seguiram pela rua desejando chegar logo em casa. O único local em que se sentiam totalmente protegidos.

Os dois sabiam que o futuro deles poderia não ser como o esperado, mas desejavam com todas as forças que fosse melhor e mais tolerante possível, por mais incerto que seja.

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